Terminou este domingo mais uma edição anual da Feira Romana, que de ano para ano tem crescido exponencialmente. A feira realiza-se em toda a área histórica da cidade e procura buscar as raízes da cidade com origem romana, mostrando tradições da época e havendo espaço para a pedagogia. Na edição deste ano, a feira contou com um oleiro que produz cerâmicas a partir de matéria-prima utilizada na altura: a Terra Siggilata.
O material sigilato era considerado o melhor no que respeita à qualidade e abundava em Roma, onde estava o Imperador. Segundo o bracarense Evandro Lopes, estudioso sobre a história da cidade, trata-se da "maior fonte económica da altura naquela civilização", sendo que a profissão de oleiro era das mais importantes nas sociedades. João Lourenço, oleiro de Barcelos que participou na edição 2012 da Braga Romana, explicou que "a Terra Siggilata era um revestimento feito nos materiais da altura, que servia como impermeabilizante". "A Terra Siggilata foi, durante muitos anos um segredo, que passava de pais para filhos. O Museu D. Diogo de Sousa tem em exposição peças originárias importadas deste material", refere João Lourenço.
Segundo o oleiro, "a Siggilata é obtida por decantação da argila pura, onde são separados os inertes (material pesado) e a água, e entre os dois há uma pequenina capa, que será extraída para dar origem a este material cerâmico". A esta fina camada João Lourenço apelida de "flor do barro", sustentando que "para serem prodizidas peças com este material é necessário um conhecimento e domínio das técnicas adequadas, para não se correr o risco de se caír numa imitação básica".
Por outro lado, são apontadas algumas críticas à falta de interesse pela vertente pedagógica da feira, que retrata a época romana da cidade. Evandro Lopes afirma que "faz falta alguém que explique a importância das profissões e dos métodos de trabalho da altura", sendo que poderá ser "esta parte pedagógica que pode marcar a diferença neste tipo de feiras, não correndo o risco de as vulgarizar", acrescentou João Lourenço, que se demonstra muito insatisfeito com a falta de atenção prestada pelos professores que passam com os alunos nas feiras mas que "apenas olham para as barraquinhas que vendem pulseiras em deterimento das barraquinhas de demonstração das profissões da altura".
Quanto ao planeamento da Feira Romana, Evandro Lopes dá "os parabéns ao Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Braga, pela iniciativa de criar uma secção onde está alguém que confeciona a lã, e um oleiro e um ferreiro, que foram convidados a estar aqui precisamente com um sentido didático de demonstrar às pessoas como é que eram estas atividades há dois mil anos". No entanto, Evandro Lopes sublinha as críticas aos responsáveis pelos alunos que visitaram a feira. "Os agentes de educação é que não estão sensibilizados e não tiram partido disto", reitera o bracarense, que também discorda da imagem do imperador no desfile inicial do certame, no qual Rui Madeira veste a pele de imperador de Roma. "O desfile começa com uma grande asneira, porque há 2200 anos o imperador nunca veio a Braga porque nunca saía de Roma, ao contrário do que Rui Madeira faz acreditar às crianças".
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